Coisa muita estranha é esta de ser um homem divinamente caído e caidamente divino!
.Sim, de carregar o finito e o infinito;
.de ser mortal e eterno;
.de ser animal mamífero e um deus filho de Deus;
.de ser livre para escolher e condicionado a tantas
determinações que turvam a escolha;
.de ter arbítrio e também de reagir à revelia do arbítrio;
.de ser santo na mesma natureza pecadora e caída;
.de estar preso ao tempo/espaço e já poder
transcendê-lo até pelo pensar, pelo imaginar e pelo crer;
.de contar dias sabendo da eternidade;
.de ter apegos mortais enquanto se celebra o
eterno;
.de sentir separações que sabemos não separam;
.de temer amar quando a vida que é [...], é apenas
amor;
.de adiar a morte quando é justamente ela que nos
livra dela própria;
.de temer a libertação daquilo que de fato liberta;
.de amedrontar-se do que não pode matar;
.de esperar frustrado o que já se sabe que é;
.de relutar em ter fé Naquele que teve fé em nós
por nos ter feito de nada além do Seu próprio desejo;
.de andar nas calçadas de poeira esquecido do
Caminho;
.de buscar fora [...] a Verdade que existe apenas
dentro;
.de almejar a Vida como se ela não nos habitasse;
.de invocar Deus acima e não no interior; de
separar os semelhantes sem enxergar a obviedade da nossa mesma semelhança;
.de nos impressionarmos ainda com tudo o que não
passa de miragem; de atribuirmos direito duradouro ao que se desvanece;
.de sairmos para lutas que estão já acabadas;
.de nos abalarmos com aquilo que já carrega o signo
da falência;
.de confessarmos com gritos o que na vida não
cremos;
.de pregarmos em alaridos e não desejarmos viver
nem mesmo em silêncio;
.de pensarmos e não concluirmos que quase nada cabe
no pensamento;
.de habitarmos o finito do tempo/espaço e não nos
darmos conta de que até em seus limites nada vemos;
.de aceitarmos estatísticas e tergiversarmos ante a
sabedoria;
.de nos culparmos do que não provocamos;
. de não culparmo-nos pelo que fizemos; de
justificarmo-nos do que não requer nada além de consciência e mudança;
.de aceitarmos que um conjunto de arrazoados tenha
o suposto poder de salvar a uns e condenar a outros;
.de confessarmos a inalcançabilidade de Deus e Lhe
defendermos os templos; de carregarmos em nós o pode do louvor e imaginarmos
que ele não acontece se não cantarmos; etc... — enfim, de sabendo tudo isto
acerca de nós mesmos, vivermos como se nada disso fosse o que de fato é!
Assim, não me é possível deixar de pensar que a
maior tragédia humana é o medo de crer, de ver, de saber, de aceitar os limites
e de acolher os não limites; de ser tão maravilhosamente divino em sua origem,
e tão desgraçadamente mamífero e animal em suas escolhas; de ser sobejamente
elevado e, ao mesmo tempo, tão aferrado ao que é mesquinho; de ser tão para
além das estrelas enquanto briga com tanta avidez pelos espaços feitos de pó!
Ah!
Que desgraçadamente linda e patética é a existência humana!
Caio Fábio - Ex presbiteriano
Uma amiga de trabalho me passou, achei muito interessante este texto, e não é muito diferente, de tudo o que acreditamos, espero que gostem.
Por: Caroline Lembo
2 comentários:
Lindo demais!
é menina, e é evangélico. adorei.
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